Ok, post longo, já aviso.
Minha vida se resume a uma coisa agora: aceitação. Aceitar que estou indo embora, aceitar que a vida que eu tinha por um ano vai acabar, aceitar que eu já sabia que teria que aceitar a partida. Ao mesmo tempo que parece que estou aqui há muito tempo, que a minha vida no Brasil parecia ter acontecido numa vida passada, também parece que foi ontem que cheguei. Passou muito rápido, ninguém me disse que setembro de um ano era tão perto assim do setembro do próximo ano.
E só chove nessa cidade, agora sim tá fazendo jus à fama.
Duas pessoas do flat já se foram, nossos corredores viraram depósito de mala e coisa que deixaremos para trás. Mas vamos falar de coisa boa, coisa muito melhor que iogurteira ou tekpix, vamos falar de The View from the Shard e mais algumas outras coisinhas que aconteceram esse mês.
Se eu amava Londres vista debaixo e depois amei ela vista da London Eye, imagina vista do septuagésimo-andar de um dos prédios mais lindos daqui e de quebra no pôr do sol? E ainda ver a Tower Bridge se abrindo lá de cima, pela primeira vez? Foi muita emoção (e muitas fotos também). E também rolou fazer xixi com Londres inteira te olhando pelo vidro, mas deixa pra lá.
Teve despedida logo um dia depois e essa foram nossas últimas fotos todos juntos.
E um dia depois eu fui no Secret Cinema que estava apresentando nada mais nada menos que um dos meus filmes favoritos, aka Back to The Future. Foi uma das melhores coisas que eu já fiz nessa minha vida: ter comprado ingressos pra isso. Pra explicar, o Secret Cinema é uma mega produção em um lugar "secreto" (eles divulgam apenas um ponto de encontro e não o lugar de verdade). Eles remontam o cenário do filme e passam o filme com atores fazendo as performances das cenas. Eu achava que ia ser bom, mas foi MARAVILHOSO. Eles remontaram Hill Valley, cidade fictícia do filme, nos anos 50 (a maioria das pessoas que foram, inclusive eu, foram fantasiadas de anos 50). Pra quem conhece o filme e já viu 500 vezes, o evento foi pensado minuciosamente. Eles montaram o outdoor de Lion Dales, montaram as casas das personagens (e mobiliaram!), eles remontaram o posto de gasolina Texaco, o cinema, a imobiliária, o Lou's Cafe, tinha outdoor vintage da Coca-Cola, tinha a placa de Welcome to Hill Valley do mesmo jeito do filme, tinha a praça principal, tinha o High School (com um ônibus circulando e Enchantment Under the Sea rolando lá dentro), tinha a loja de discos, todas as fachadas eram idênticas às do filme, até as placas e anúncios, era tudo perfeito. E claro, tinha a Clock Tower, que foi onde o filme foi projetado. Se não bastasse, tinha uma roda gigante e um daqueles brinquedos de balanço que gira (que eu não sei o nome), tinha uma barraquinha do The Breakfast Club (que é uma lanchonete aqui temática dos anos 80 e que tem o melhor milkshake de manteiga de amendoim com banana!), tinham atores fantasiados por todo o lado, tinham Cadillac's circulando, tinha até gente pulando corda (sim, eu pulei), tinha a rádio de Hill Valley que tocava músicas dos anos 50 e fazia dedicações para quem quisesse, tinha uma mini fazenda do Peabody com ovelhas e eu toquei em uma ovelha e tinha "policiais" vestidos de policiais americanos e tinha britânico me fazendo rir por tentar imitar sotaque americano mas sair uma piada! Enfim, isso ainda não é tudo.
O filme começou com uma aula de dança dos anos 80 (apesar de ser anos 50, o filme começa nos anos 80, ah, vão lá assistir) e todo mundo dançou. Todo mundo foi à loucura também quando, na cena em que o DeLorean aparece, um DeLorean também apareceu do mesmo jeito de dentro de um portão debaixo da projeção do filme. E o DeLorean também deixava rastros de fogo quando atingia 88mph. E durante o raio da Clock Tower? Sim, também teve um raio e também teve um Emmett Brown pendurado lá em cima. E teve um baile dos anos 50 com todo mundo dançando no final do filme ao som de Johnny B Goodie. E teve eu não acreditando que eu vivi aquilo. E não, não postei foto no instagram porque não podia celular lá dentro, mas podia minha câmera dos anos 50!
Isso foi na quinta. Na sexta, fui à Tower of London e finalmente entrei! A instalação em homenagem aos mortos na primeira Guerra Mundial (porque o centenário é esse ano) é linda e pesada ao mesmo tempo, pois realmente parece um mar de sangue em volta da Tower. São 888,246 poppies, que são flores vermelhas, que foram adotadas pelo Reino Unido como símbolo de "lembrança", já que dizem que, ao final da guerra, tudo foi devastado e só sobraram as poppies. São 888 mil poppies para cada 888 mil pessoas que perderam a vida. Mas, enfim, a Tower é bem legal, o nosso guia (que na verdade é um Yeomen Warder, guarda cerimonial da Tower) foi bem divertido, apesar de contar histórias pesadas sobre os prisioneiros mantidos lá. E lá dentro tem armaduras, tem torres e todas as histórias por trás delas, tem escritas de prisioneiros nas paredes, tem as residências dos Yeomen's, tem as jóias reais e tem corvos, corvos gigantes. Isso vem de uma tradição que diz que, se os corvos abandonarem a Tower, o reinado cairá, por isso eles são alimentados de forma especial e tem até um Yeomen que é responsável por eles. Eles que não vão arriscar a queda do reino...
Sei que o post tá longo, mas paciência, tenho mais coisas pra contar.
O verão? O verão se foi. Tá frio, tá chovendo sem parar. Eu já guardei minhas roupas de frio na mala e vou me virar com uma jaqueta e cachecol mesmo. E arrumar a mala está sendo um saco, meu quarto tá a maior bagunça do mundo, já me desfiz de milhares de coisas e a gente tem que ficar pesando a mala pra ver se não vai exceder. Um ano é muito tempo, dá para acumular muita coisa, ainda mais quando se tem dinheiro para comprar essas coisas... Mas uma coisa que doeu meu coração de se fazer foi desmontar meu mural... Por isso fiz até um gif especial para esse momento.
Ainda tô no estágio, ainda tenho uma semana aqui, mas Londres vai ficar pra sempre na minha memória e no meu coração. E... essa foi uma das razões pelas quais decidi fazer uma tatuagem. Tá, eu já queria uma tatuagem, a ideia já era velha na minha cabeça, mas acho que o momento foi perfeito. As aspas, abrindo e fechando comigo dentro, simbolizam algo que Londres me ensinou: a me expressar. Quem me conhece sabe que eu sempre fui melhor com palavras escritas do que com palavras faladas, talvez por isso não faço vídeos aqui. Só que Londres me mudou muito em relação a isso. Eu fiz coisas que a Sarah do Brasil não faria. Apresentar trabalho em inglês para uma sala lotada? Fiz. Apresentar trabalho em inglês para três agências grandes de publicidade valendo estágio? Fiz. Falar no telefone em inglês? Reclamar de algum serviço no telefone em inglês? Fiz. Falar com estranhos e não ficar quieta no meu canto? Fiz. Me virar sozinha em espanhol? Fiz. Ficar duas semanas me comunicando com meu supervisor que é da Irlanda (já ouviu inglês irlandês?)? Fiz. Me impor e expressar se eu quero ou não quero algo? Era algo bem difícil pra mim, mas eu aprendi também. Até mesmo ir ao Secret Cinema sozinha e pular corda e dançar com estranhos e tudo mais foi meio que o ápice do meu crescimento. E nada pra mim simboliza isso melhor do que as aspas, e, apesar de tudo, eu adoro a forma delas, tem muito a ver com duas coisas que eu gosto bastante: escrever (principalmente narrativas) e design/tipografia, afinal é um símbolo universal para fala e citações. Isso vai me ajudar a não voltar a ser a mesma de antes quando eu sair daqui.
Mas esse não é o último post do blog não, então boa noite e fiquem aqui com o ursinho do Mr. Bean.
2 comentários:
AI MEU DEUS AMEI O FINAL hahahah <3 <3 <3
Queria minhas fotos do shard e da tower mas elas nunca existiram :( que pena, terei que voltar :P
boa sorte ai com o final, aproveita mais que nunca.
#SARAHMELHOREMTUDO!!!
Quase morri de chorar com esse post, você é uma fofa e foi uma honra morar com uma pessoa tão talentosa <3
Adorei suas fotos, a proposito.
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