CONTRAILS.


Há um ano, eu estava tendo um dia normal. Tive aula, comi batatas e a limonada do Leon.
Há meio ano, entretanto, eu estava em um avião, chorando, tentando não pensar que eu realmente estava te deixando. Dizer adeus para as coisas que a gente ama nunca é simples.
Hoje completou 6 meses que eu voltei. Acho que a fase de chorar passou, eu estou mais acostumada à realidade. Mas ainda me dói ver fotos, ainda me torturo vendo qualquer clipe, qualquer filme, qualquer imagem de você. E me persegue. Em todo lugar que vejo há uma cabine telefônica, há uma camiseta com a Tower Bridge estampada, hoje mesmo, olhe só, vi que estão vendendo fish & chips (com direito a uma Union Jack no cardápio) em um fast food no shopping. 

Essa semana, olhei para o céu e vi isso:


Quanta saudade cabe em um risco branco no céu? Eu não sei. São memórias que transbordam do meu coração. São detalhes, pequenos, que muitas pessoas ignoram, que fazem meu coração sentir aquela angústia pontuda bem no fundo. Como é possível? Como é possível sentir que um lugar no qual você morou por um ano é mais seu lar que um lugar no qual você nasceu e morou 20 anos e meio? 

Eu fiquei olhando esse risco no céu por um bom tempo, enquanto ninguém a minha volta dava a mínima. Em você, Londres, era impossível olhar para o céu e não ver pelo menos um desses, não ver um avião sequer. Eu fiquei olhando esse traço no céu, pensando se, se eu o seguisse com os olhos, ele me levaria de volta para 1 ano e seis meses atrás, para quando eu estava embarcando sozinha para um lugar onde ninguém me conhecia.

E eu gostava desse detalhe em você: ninguém te conhece. Você pode estar sentado ao lado de alguém que trabalha em uma lojinha de Notting Hill ou você pode estar sentado do lado do CEO de uma empresa gigantesca. Você pode estar descendo a escada do metrô enquanto um pop star desce a outra. você, Londres, te dá a possibilidade de crescer, você sente que você é alguém, que você pode ser alguém. E como eu sinto falta dessa tal liberdade, desses sonhos. Sinto falta de andar por uma rua sem ao menos saber que aquela rua foi palco de grandes eventos da história da humanidade. Tem certos lugares que te fazem sentir parte de algo maior do que sua vida, e um desses lugares é você. 





E é melhor eu parar de escrever antes que eu fique ainda mais melodramática. Antes que eu entre em cada vez mais detalhes e não pare mais. Como por exemplo como eu gostava de coisas que eu mal percebia que gostava: o self-check out no Tesco Express, a fila do Natwest, o metrô lotado em Oxford St, as catracas de Tottenham Court Road que sempre - sempre - me barravam, mesmo se meu Oyster estava carregado, sinto saudades de alguém do flat gritar para fechar a porta pois estávamos fazendo barulho demais na sala, sinto falta da prateleira do banheiro que ficava mal posicionada em cima da pia, sinto saudades de ter que carregar meu casaco quando eu entrava em algum lugar com aquecimento. Eu poderia fazer uma lista gigante de todos esses detalhes, mas seria tortura demais.

Essa vontade de te reencontrar nunca vai passar?


Um comentário:

Flavia Donohoe disse...

Lindo! Londres é a minha cidade preferida no mundo!